segunda-feira, 25 de agosto de 2025

O discurso reacionário de Mataphor ReFantazio

Metaphor ReFantazio se passa no reino de Euchronia. Uma terra de fantasia onde a magia é uma realidade. O mundo é dividido em oito tribos, com raças que delimitam bem cada um de seus integrantes. A injustiça e o preconceito contra certas tribos é algo corriqueiro. Nosso personagem, Will, pertence a tribo que mais sofre preconceito: os Eldas. Ele, porém, leva consigo um mundo idealizado através da história de um livro, que narra uma utopia, um mundo onde a igualdade, liberdade e justiça são uma realidade.    

A trama tem início com o protagonista e a fadinha Gallica. Os dois fazem parte de um plano que envolve livrar o príncipe de uma maldição que o colocou em um sono profundo há muitos anos. Para isso, eles precisam ou encontrar a fórmula da maldição ou eliminar o seu autor. A primeira cena do jogo mostra Louis, um prodígio na magia e chefe do Exército real, assassinando o Rei de Euchronia. Essa cena, antes mesmo da tela de abertura do jogo, nos leva a crer que a pessoa que lançou o feitiço no príncipe adormecido possa ser justamente o regicida.

Em meio a missão original de Will e Gallica, a morte do Rei, dá início a uma disputa pela sucessão ao trono. Uma magia desferida pelo Rei morto nos coloca numa trama eleitoreira. A magia lançada analisa as opções de cada habitante do reino sem a necessidade de uma declaração aberta deles. Ela enxerga os desejos dos corações de cada um. Em meio à vários candidatos, que já gozavam de certo status social e que, por isso, despontam na preferência do povo, Will entra na disputa para tentar transformar o seu sonho de liberdade e igualdade, a sua utopia, em realidade.

    

Por mais que o roteiro passe pra gente a ideia de que a pauta defendida por Will represente algo revolucionário, do ponto de vista prático, o que vemos é uma tentativa de resgate de uma realidade anterior àquele mundo segregado. É o restabelecimento de uma antiga ordem, com outra dinâmica de poder. Mas, um dinâmica de poder que ainda é segregadora. A candidata que mais aproxima sua plataforma política de algo revolucionário é Catherina. Mas, ela é apresentada para o jogador como uma extremista. Uma idealista que apresenta ideias desconexas da realidade.    


A trama de Metaphor ReFantazio é um desperdício e super reacionária. O ar de mudança que o protagonista defende se baseia na ideia de continuidade de um modelo político que preserva as diferenças de classe e a miséria de Euchronia. Numa das cenas finais, sem entrar muito em spoiler, os heróis nada fazem por um plebeu, agredido pela guarda real, que protestava contra o novo governo estabelecido. Ao final da nossa jornada, de mais de 70 horas, a impressão que fica é que lutamos por nada. Uma revolução para nada mudar.


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