Um gênero de videogame que foi grande expoente nos anos 80 e 90, foram os de jogos de plataforma 2D. Títulos dos mais diversos, como Super Mario, Mega Man, Contra, foram lançados misturando ação, aventura, tiro e por aí vai. São jogos simples, com um saudoso visual pixelado e que marcaram demais o início da geração de consoles.
Três jogos, em especial, revolucionaram o gênero, em momentos diferentes: Metroid, Super Metroid e Castlevania: Symphony of the Night. A busca pela maior pontuação, os estágios cronometrados e a linearidade das fases foram deixados para trás. Elementos de exploração foram adicionados à esses jogos, dando liberdade de progressão para os jogadores. Nesse sentido, as fases com início, meio e fim, deram lugar a um grande labirinto interconectado.
Metroid + Castlevania = Metroidvania
O avançar por certas áreas estava ligado a uma habilidade ou poder específico. O que tornava o ir e vir pelos cenários uma coisa constante. Assim, se perder por aquele mundo era muito fácil e, de certa forma, algo que fazia parte da experiência. Com Castlevania, elementos de RPG foram adicionados. E a narrativa ficou, ligeiramente, mais envolvente, apesar de piegas.
Jogos que traziam consigo a mistura de elementos e mecânicas, de Metroid e Castlevania, ficaram conhecidos como Metroidvania. Na sexta geração de consoles, no entanto, em meio ao “boom” dos jogos tridimensionais e com narrativa cinematográfica, o subgênero passou a respirar por aparelhos, sobrevivendo graças ao poder de portáteis, como o Game Boy Advance.
Surge Hollow Knight
Nos anos seguintes, a popularização de estúdios independentes teve um grande papel no resgate e manutenção do legado dessas obras, nos consoles de mesa e PC. Um dos maiores expoentes foi, justamente, um jogo despretensioso, de um pequeno estúdio australiano chamado Team Cherry. Trata-se de Hollow Knight.
Fruto de um financiamento coletivo, no kickstarter, Hollow Knight teve o seu desenvolvimento iniciado em 2014. Lançado em 2017, ele foi cativando, pouco a pouco, os corações dos jogadores. Sucesso de crítica e de vendas (mais de 15 milhões de cópias, desde o lançamento), o título abriu caminho para o resgate dos Metroidvanias, mostrando que há espaço na indústria para jogos do tipo.
A narrativa não segue uma linearidade. O arco do pequeno herói é contado de forma fragmentada, através de nossa interação com os outros personagens de Hollownest (o mundo do jogo). Quanto mais nos debruçamos e exploramos aquele mundo, mais aprendemos sobre ele.
A trilha sonora e o design de som, são espetaculares. De você saber exatamente sua localização no mapa pela melodia tocada. É tudo tão incrível que até mesmo os “voice acting” são marcantes e nos fazem associar, imediatamente, ao personagem em questão. Como o gritinho de Hornet ou o arfar desinteressado de Iselda, a lojista de Dirtmouth.
O visual, desenhado à mão, é lindíssimo. Os controles são precisos e simples. Porém, vão ganhando camadas de complexidade conforme avançamos e novas habilidades são desbloqueadas. O jogo é muito honesto quanto à dificuldade. É desafiador na medida certa. Nada mais absurdo compará-lo aos soulslike da vida.
Hollow Knight brilha também nos bastidores. Todo o processo de desenvolvimento se deu envolto a muito respeito aos profissionais envolvidos e aos fãs que financiaram o projeto. São conteúdos extras que foram adicionados de forma gratuita e um trabalho contínuo de otimização.
Silksong não é meme
Dado o sucesso, uma expansão da história foi prometida para os fãs. Mas, o projeto ficou tão grande e audacioso que se tornou um jogo completamente novo. E é aí que Hollow Knight: Silksong entrou na brincadeira. Desde o seu anúncio, em 2019, porém, pouco se soube sobre o título, rendendo memes dos mais diversos, nas redes sociais. O silêncio, finalmente, foi quebrado na última Gamescom. Depois de anos de espera Silksong ganhou uma data de lançamento: 04 de setembro.
A falta de informação, em todos esses anos, acendeu um alerta de que o jogo passava por um algum tipo de problema no processo de desenvolvimento. O temor era de que a demora se devia à uma crise criativa ou algo do tipo. Porém, foi justamente o oposto. O caminhão de novas e boas ideias, e a vontade de torná-lo ainda melhor, é que esticou o seu desenvolvimento. Os caras da Team Cherry, literalmente, estavam se divertindo criando o jogo.
A indústria ainda respira
A galera costuma dizer que o “background” narrativo por trás de um jogo pode torná-lo ainda mais memorável. Em meio a tantas notícias ruins na indústria (crunch, abuso, demissões em massa) a história por trás do desenvolvimento de Silksong é um alento. Um sopro de esperança que aponta que não só os metroidvanias ainda “respiram”, mas a indústria como um todo.